Top 10 – Agatha Christie [+menção honrosa]

Há algum tempo me deparei com um vídeo de uma garota no qual ela listava os 10 melhores romances policiais da Agatha Christie. Só que o vídeo tinha um problema: a guria fala, fala, fala de aspectos biográficos da autora, mostra sua imensa coleção de livros. Mas na hora de apresentar a lista, não diz por que escolheu aqueles livros em particular e não outros. Claro que toda lista é pessoal, mas vamos pelo menos pelo menos justificar nossos gostos, galëre.

Sem mais delongas, eis o meu top 10 de livros da Agatha Christie.

10 Toward Zero (Hora Zero)

Quem já leu algum romance da Agatha Christie, sabe que as pistas não são meramente físicas. Antes estão no discurso dos personagens, nos ditos e não-ditos. Talvez uma das narrativas mais bem acabadas da autora do ponto de vista psicológico seja esta. Os segredos abundam os vários triângulos, quadrados amorosos e etc. da história. O problema é que aqui existe um psicopata identificado como tal ainda na infância, mas que se mantém incógnito. Em suma, é uma história que põe em evidência alguns dos sentimentos humanos mais primitivos: desejo, ciúme, vaidade. É por isso que considero Towards Zero um dos melhores. E o desenlace então… hehe.

9 Three Act Tragedy (Tragédia em Três Atos)

A escolha desse livro tem a ver com puro desgosto meu mesmo em relação a um dos personagens. Experimente a sensação de ver um personagem que você não suporta se ferrando no final: não tem preço. Mas, deixando o campo das emoções, Tragédia em Três Atos, como o próprio nome sugere, apresenta o que eu chamaria de “mecânica do crime” cheia de referências à linguagem teatral. É mirabolante? É. Mas extremamente criativo.

8 Sleeping Murder (Um Crime Adormecido)

É muito amor esse livro. Literalmente. Imagine que você sempre viveu na Austrália e nunca pisou na Inglaterra. Mas quando vai morar lá, começa a ter flashes da casa onde atualmente vive com seu marido. E uma dessas memórias é de um crime.  Nas mãos certas, isso daria um excelente filme de suspense/terror (nas mãos certas, porque há um monte de bombas por aí com plot semelhante). Um mistério que quando se revela perturba. A que ponto pode chegar a maldade humana motivada pelo ciúme e pela possessão. Vale também pelo subtexto incestuoso.

7 Endless Night (Noite sem Fim)

Só agora, fazendo essa lista, me dei conta que em Noite Sem Fim, Agatha repete o mesmo que fez em O Assassinato de Roger Ackroyd. Porém, contudo, entretanto, todavia, o que faz de Endless Night diferente do outro? O tom da narrativa. Enquanto que O Assassinato de Roger Ackroyd se desenvolve como uma narrativa policial, Endless Night é um romance leve e fofinho. Para no final, revelar um crime torpe e covarde. Se houve uma analogia, seria o filme Audition, do Takashi Miike. E o título não poderia ser mais coerente com o inferno pessoal do criminoso aqui.

6 Nemesis (Nêmesis)

Nemesis é considerado uma espécie de sequência de Mistério no Caribe que, em vários aspectos, é muito melhor do que sua continuação. Mas por que escolhi Nemesis à Mistério no Caribe? Pela repetição. Há pelo menos três ou quatro livros de Agatha que são muito semelhantes a Mistério no Caribe que é uma excelente narrativa policial, mas bem genérica. Nemesis apresenta momentos de humor, de constrangimento e versa sobre um tema que muito me agrada que é o amor obsessivo. Cheinho de subtexto lésbico.

5 Death on the Nilo (Morte no Nilo)

Este aqui escolhi por ser um dos livros mais autobiográficos da Agatha Christie, mas também por trazer uma narrativa muito envolvente. Trata-se da história de uma garota aristocrática, porém pobre, que “perde” o noivo para a melhor amiga que é podre de rica (e gata). Foi para ficar com uma amiga íntima de Agatha que seu primeiro marido se divorciou dela… O livro foi escrito na mesma época em que a furaolhice se deu, logo após aquele episódio do “desaparecimento” dela. Para se recuperar da crise depressiva, ela viajou ao Egito por recomendações médicas. Desta combinação, nasceu Morte no Nilo.

Amiga gata (e com decote) e o noivo roubado na adaptação de  1978

Amiga gata (e com decote) e o noivo roubado na adaptação de 1978

4 Spider’s Web (A Teia da Aranha)

É uma peça e não um romance. O que menos importa em A Teia da Aranha é descobrir o criminoso. Divertido mesmo é ver a teia que a sedutora aranha Clarissa Hailsham-Brown tece ao longo da história, manipulando todos os personagens por um motivo apenas: proteger o esposo sem sal (mas que ela ama) e a enteada Pippa (que ela ama muito mais). Eu diria que Clarissa é minha personagem preferida de todos os livros da Agatha que já li.

3 Witness for the Prosecution (Testemunha de Acusação)

Outra peça. Só lembro da Marlene Dietrich divando na adaptação pro cinema. Enfim, o mote: um sujeito é acusado de assassinato e sua esposa decide testemunhar, só que contra o sujeito. Não há como descrever o desenrolar dessa história sem revelar detalhes substanciais. Há uma porção de filmes de suspense (os famosos filmes de tribunal) que só existem por causa dessa peça.

marlene dietrich

Marlene mitando

2 The Murder of Roger Ackroyd (O Assassinato de Roger Ackroyd)

Agatha foi chamada de trapaceira por causa do livro. Ah, vá. Coisa de crítico e escritor mimizento que ficaram com invejinha por não ter tido a ideia antes. Mas o que é que eu posso dizer sobre Roger Ackroyd? É um romance em primeira pessoa que se desenvolve como qualquer outro da escritora ou de qualquer outro escritor policial. Aí você chega nas últimas páginas e tudo o que foi dito antes é desconstruído. Simples assim. Agatha deu um piparote nas regras do romance policial. Precisa ter?

1 Curtain (Cai o Pano)

O último livro de Hercule Poirot, escrito durante a Segunda Guerra Mundial. Agatha tinha medo de morrer e deixar seu personagem vivo. É a história mais depressiva dela. Hastings, fiel amigo de Poirot, está destroçado ainda pela viuvez, e parece que sua tristeza o deixa mais estúpido do que em seu estado normal. O interessante em Cai o Pano é o link que Agatha faz com Otelo, emulando uma nova versão de Iago, seu assassino perfeito. Aquele que nunca poderá ser pego pela justiça, pois não mata, induz a matar. Porém, “você vai querer dizer ‘que caía o pano’ quando souber quem matou Norton”. A última aventura de Poirot é a que marca o mais amargo fracasso do mais vaidoso dos detetives.

Menção honrosa: Ten Little Niggers (E não sobrou nenhum). É racista? É. A cantiga infantil e, logo, a história em si que é toda baseada na cantiga grotesca e de mau gosto. Mas é também uma das histórias mais diferentes de Agatha. Um assassino serial killer movido pela sede de justiça de fazer aqueles que não foram condenados pela lei pagarem com a morte os crimes que cometeram. Uma ilha. O isolamento. Não há como fugir. Nem como pedir ajuda. Se existem slasher movies, este é um slasher book.

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